quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Quatro escolas: reflexões finais

Por meio de exemplos, serão explicadas as quatro escolas estudadas (estruturalismo, gerativismo, materialismo e funcionalismo além de um breve comentário sobre a gramática normativa) e as especificidades de cada uma delas.

1) Gramática normativa
Vê a língua como expressão do pensamento.
Objetivo: prescrever o uso / normativizar

ex.:



2)Estruturalismo
Vê a língua como um sistema de signos
Objetivo: descrever a língua e suas regras
Ex.:


3) Geratisvimo
Abordagem explicativa
Obetivo: explicar as regularidades da língua
Vê a língua como uma faculdade, uma capacidade inata.
Ex.:

4) Materialismo /AD
Abordagem interpretativa
Pensa a língua como a manifestação da ideologia.
Objetivo: analisar de que lugar social os sujeitos estão falando e observar os discursos e seus efeitos de sentido.
Ex.:



5)Funcionalismo
Pensa a língua em uso, em situação de interação.
Leva em consideração os sujeitos que falam, que ouvem e o contexto em que estão inseridos.
Pensa como a língua funciona concretamente e diz que as sentenças em português se organizam , majoritariamente, na ordem tópico-comentário.
Objetivo: pensar na língua na situação de interação.
Ex.:

O postulado funcionalista

As abordagens funcionalistas são bem distintas. Para o funcionalismo, as línguas são instrumentos de comunicação e interação social.
A gramática funcionalista analisa as relações entre os constituintes e como esses se distribuem em relações sintáticas, semânticas e pragmáticas.
As relações sintáticas, para os funcionalistas, especificam a perspectiva da qual é apresentado o "estado da coisa" na expressão linguística.
As semânticas, por sua vez, especificam os papéis que exercem os referentes dentro do "estado de coisas" designado pela predicação em que ocorre.
Já as pragmáticas especificam o estado informacional do constituintes dentro do contexto mais abrangente em que eles ocorrem.
O sistema linguístico, segundo a perspectiva funcionalista, existe para cumprir funções comunicativas.Além disso, eles acreditam que o funcionamento da língua dentro de tais circunstâncias prevê mudanças na língua que sejam capazes de atender as novas necessidades de expressão.

Tipos de enunciados

1) Enunciados logicamente estabilizados : são aqueles pelos quais não há chance de haver outro sentido, uma nova interpretação.
Como exemplo temos a fórmula da água, que sempre será H2O( não há outra interpretação) e também as contas matemáticas que são exatas e fixas.

2) Enunciados passíveis de interpretação: São próprios da ciências humans e sociais.São enunciados interpretáveis, que permitem mais de um sentido e significação.

Interdição à interpretação:as notas de rodapé são um bom exemplo. O enunciador priva o leitor (ou o enunciatário) de ter sua livre interpretação sobre algo.

Acontecimento discursivo

Acontecimento, segundo a Análise do discurso, é o ponto de encontro entre uma atualidade e a memória.
Para Michel Pêcheux ,o discurso é estrutura(termo proveniente da concepção de língua para Saussure) e acontecimento.
Os acontecimentos cotidianos são transformados em acontecimentos discursivos e cada acontecimento discursivo produz um sentido diferente.




O discurso como processo discursivo

Não se pode pensar em discurso sem pensar em interdiscurso e formação discursiva.
O interdiscurso equivale ao discurso transverso.Como já foi mencionado, o discurso transverso se trata da organização do pré-construído em um outro discurso.
A formação discursiva, por sua vez, é o lugar ideológico que determina como o discurso vai ser construído. Ela é a matriz de sentidos que regula o que pode e deve ser dito.Toda fd está atrelada a uma formação ideológica(FI).
Por mais que tentemos apagar a história , não será possível pois ela deixa rastros através da memória e da linguagem. São resquícios (implícitos ou explícitos) que não podem ser apagados.


Heterogeneidade discursiva

1) Heterogeneidade constitutiva: todo discurso se constitui a partir de outro discurso(lembre-se do interdiscursividade!).

2)Heterogeneidade mostrada e marcada: quando um único locutor produz um certo número de formas linguisticamente perceptíveis no nível da frase ou do discurso, e inscreve o outro explicitamente em sua fala.
Formas de marcar o outro no discurso: aspas, itálico, citações, glosas, sic, entre outras.
Ex.: Felipe disse que você está bonita.

3) Heterogeneidqade mostrada e não marcada: representa , pelo continuum, a incerteza que concretiza a referência do outro.
Não há índices de autoria no discurso do outro.
Formas implícitas de heterogeneidade: discurso indireto, ironia, esteriótipo , imitação.
A presença do outro não é explicitada por marcas unívocas na frase. Esse jogo com o outro no discurso opera no espaço do semidesvelado.

Discurso transverso

O discurso transverso, ou interdiscurso, é a organização do pré-construído em outro discurso. Todo discurso é constitutivamente atrevessado por outros interdiscursos, formações discursivas e ideológicas, sendo por tanto, heterogêneo.


Exemplo de "atravessamento de discursos":

Aquele que morreu na cruz nunca existiu
-->discurso cristão/ -->discurso ateu (discurso transverso)



Esquecimentos

Para Pêcheux:

1) O sujeito não é a origem do dizer.Tudo que está sendo dito hoje já foi dito antes por alguém, em outro lugar. Com exceção dos enunciados fundadores de discursividade, como a Bíblia, todos os outros já foram enunciados e apenas são atualizados cada vez que um falante o pronuncia.

2) A relação mundo, linguagem e pensamento não é direta mas é atrevessada por várias ciências e conceitos entre eles a ideologia e o pré-construído(aquilo que já foi enunciado antes). Por isso, a análise estritamente linguística não dá conta de descrever o sentido.


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Discurso e Ideologia

A ideologia não é o ato de " mostrar a aparência e ocultar a essência " mas sim interpretar e produzir sentido a partir de uma dada posição ideológica.
Para a AD, a ideologia se materializa no discurso e é ela quem nos constitui como sujeitos.


Relação Discurso e Ideologia

A Ad constrói um objeto novo do que se tinha até então. O discurso não deve ser entendido como sinônimo de texto ou mensagem. O discurso enquanto mensagem apaga as relações de poder e coloca os sujeitos no mesmo patamar.
No entanto, as relações não se dão nessa forma. Não há harmonia mas há conflitos na linguagem. Há relações hierárquicas de poder e os sujeitos desejam ocupar o lugar de produtores do discurso.
O discurso não é simplesmente aquele que traduz as lutas mas é a causa porque se luta.
A AD defende que a base da linguagem é ela mesma, não diferindo de um grupo social para outro. A maneira como utilizamos a língua é o diferencial.
Além disso, a relação língua/sociedade não é direta. A base linguística (fonema, morfema, organização sintática) é a mesma.
O preconceito, portanto, não está na estrutura da língua mas no funcionamento dela.
O discurso não se dá na evidência.É preciso descontruir a discursividade para tentar aprendê-la.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O materialismo histórico na língua: a AD de orientação francesa


Ads com diferentes orientações:

1) Ad derivada de Pêcheux: o discurso é determinado pela história> analisa a relação discurso e ideologia.
2) Ad derivada de Foucault: vê as condições de possibilidade de irrupção dos discursos
3) Ad derivada de Bakhtin: analisa a construção dos discursos na relação entre o "eu" e o "outro", uma arena de luta entre diferentes vozes.Pensa nos discursos e nas condições de possibilidade em que ele ocorre.
4) Ad derivada de Norman Fairclough: pensa em como as lutas sociais se materializam no discurso ( ad conhecida também com análise crítica do discurso).

Escola francesa de A.D.

(Fim da década de 1960- Michel Pêcheux)
Surge como tentativa de construção de uma teoria althusseriana da linguagem.
As ciências humanas na França dos anos 60 estavam no contexto em que todas as produções culturais tornavam-se passíveis de leitura.
A Ad surge a partir da articulação de três regiões do conhecimento: o marxismo (althusseriano), a psicanálise (lacaniana) e o estruturalismo linguístico(saussureano).
Havia uma efervescência intelecto-social e foi nessa efervescência que a AD surgiu como teoria de leitura.
A Ad surgiu também por causa da obscessão pela significação que os franceses tinham e pelo projeto político-científico de fazer avançar os estudos da linguagem e conscientizar as massas da submissão aos aparelhos ideológicos.
A AD não quer analisar os mecanismos dos textos e sim dizer como a história e a ideologia se materializam no texto.Não interessa o produto mas sim o processo. Não há uma teoria já pronta que sirva como instrumento para a análise. Além disso, a ad verifica que os discursos se apresentam sempre em diálogos com outros discursos.

Nascimento da AD:
Publicação da revista Langages nº13 e participação no colóquio de Lexicografia em 1968 por Jean Dubois e publicação do livro Análise Automática do Discurso por Michel Pêcheux em 1969.

Materialismo histórico e dialético

Marx(1800)

Os trabalhadores para ele são vendedores da força de trabalho.

Características do materialismo histórico e dialético:
-O modo como a gente vive é que instaura os pensamentos. Nosso modelo de vida diz como vamos pensar (e não o contrário).
(Georg Wilhelm Friedrich Hegel)
-Pensar em dialética implica pensar em relação e as relações dialéticas não são estáveis.
- O primeiro lugar onde se percebe alguma mudança no mundo e em sua materialidade é na materialidade da linguagem, ou seja, no discurso.


Exemplo de Hegel:

Senhor X escravo

1)Para existir o escravo deve existir um senhor.
2) o escravo é escravo em relação ao senhor mas é livre em relação ao mundo pois ele sabe lidar com a natureza etc.
O senhor, em contrapartida, é escravo em relação ao mundo pois se o escravo não lhe der o que comer e beber ele morre. Assim, o senhor vira escravo da relação com seu escravo.

Materialidade
infra-estrutura: lugar da produção, algo concreto
superestrutura: modo como pensamos/ discursos que marcam uma determinada cidade ou povo.

Materialistas

Os materialistas dizem que a língua tem uma estrutura própria mas possui uma autonomia relativa.
Para eles, não é possível pensar no significado linguístico sem levar em conta as determinações históricas e sociais.Há ordens discursivas e históricas que não podem ser superpostas umas as outras.Além disso, é no nível do significado que as questões externas se fazem mais presentes.


ORDEM DO ENUNCIÁVEL:
Princípios de controle e rarefação dos discursos.

Ex.: Frase "O homem descende do macaco".

Esse enunciado só ganhou status de enunciado verdadeiro com as pesquisas de Darwin. Antes delas ele até poderia ser enunciado, mas não tinha tanta veracidade e os efeitos de sentido produzidos eram outros.


Características do Materialismo:

-Tenta descrever e interpretar as condições em que o discurso pode ser dito/o funcionamento dos discursos.
-pensa o que possibilita que um discurso ganhe o status de legitimidade.
-crê na existência de algo que regula o que pode e deve ser dito

Mikail Bakhtin(1920):
critica o objetivismo abstrato e o estilístico.
O objetivismo abstrato diz respeito a Saussure e a exclusão do sujeito e das questões externas à língua. O Estilístico era defendido por Karl Vossler, que dizia que o sujeito tem uma onipotência sobre a linguagem e que essa é subordinada ao sujeito.
Para Bakhtin as falas de agora se ancoram a falas produzidas agora e anteriormente.
Ele critica a onipotência sobre a linguagem e diz que é a linguagem que constitui o sujeito e não o contrário

Estruturalista X Gerativista

O estruturalista apenas descreve as regularidade que a língua possui.
O Gerativista, por sua vez, busca as explicações para os fatos linguísticos.

Em uma sequência como:
"OS MENINO"

O estruturalista diria apenas que o primeiro elemento se trata de um determinante e que o segundo se trata de um nome, compondo com o det um sintagma nominal.
Pela perspectiva gerativista, seria questionado por que no português costumamos marcar o plural apenas no primeiro elemento.