quinta-feira, 27 de maio de 2010

Especificações de Mattoso

Fases de Mattoso Câmara:

  • Fase da teoria linguística
  • descrição do Português
  • Estudos estilísticos
  • Fase da história das ideias linguísticas
  • Divulgação científica *
Mais especificamente na fase da história das ideias linguísticas, Mattoso investigou a trajetória da linguística, principalmente na europa e nos EUA.
O linguista brasileiro verificou a influência dos estudos descritivos e pragmáticos na linguística americana, diferentemente das influências que constituiram a base da linguística europeia e analisou em que medida a linguística brasileiro lidou e incorporou essas tendências.

Enquanto as quatro primeiras fases que citei são amplamente discutidas em livros sobre Mattoso Câmara, o Prof.º Dr.º Roberto Baronas acredita que existe uma quinta fase nos estudos de Mattoso Câmara.
A fase da divulgação científica seria uma 5ª linha de pesquisa, na qual a preocupação com a divulgação científica de resenhas de artigos de linguistas estrangeiros e a produção de textos que objetivavam auxiliar professores de língua portuguesa contribuiram de forma ímpar para o estudo do português do Brasil e consequentemente, deram sua contribuição à linguística do nosso país.





*fase proposta por Baronas

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Questões sobre o texto “Considerações sobre o gênero em português”

1) Explique a seguinte afirmação de Mattoso Câmara Júnior: “O gênero (…) não coincide necessariamente com a diretriz semântica do sexo, é perturbador e contraproducente tomar essa diretriz como ponto de partida para a descrição da categoria substantiva do gênero” (pág.149).

Ao proferir esse enunciado, Mattoso atentou para a errônea analogia entre gênero lingüístico e sexo dos seres, observando que o critério semântico do sexo só é “teoricamente aplicável” quando os substantivos referem-se a indivíduos do reino animal, sendo que essa aplicação além de não ser completamente coerente, é aplicável a poucos casos da língua.
Para diferenciar o sexo, a língua oferece processos lexicais como a heteronímia (ex.: bode/cabra), a derivação lexical (ex.: poeta/poetiza) ou a dos termos macho-fêmea na designação de animais ( ex.: girafa macho/ girafa fêmea). Concluindo, podemos dizer que todos os substantivos possuem gênero, mas nem todos são dotados de conotação quanto ao sexo.


2) Para Mattoso Câmara Júnior o que é gênero feminino? Dê exemplos que fundamentem sua resposta.

Para Mattoso, o feminino é um processo de “particularização significativa”, que não necessariamente implica ou se limita aos indivíduos de sexo feminino do reino animal. Além disso, Mattoso vê o feminino como uma forma marcada, pela qual acrescenta-se a desinência /a/, em relação de oposição à forma não marcada, que é o masculino.
Exemplificando, temos os nomes caneta e lápis: o substantivo caneta não implica sexo feminino e pertence ao gênero feminino por ter a desinência –a, enquanto lápis possui o morfema zero.
Assim, o feminino é tido como uma particularização mórfico-semântica do masculino.


3) Mattoso Câmara Júnior assevera que “não é a flexão do substantivo, em princípio, a marca básica do seu gênero”. Explique e exemplifique essa afirmação do lingüista brasileiro.

Para construir seu argumento, Mattoso expõe a questão dos substantivos de gênero único, que por não terem marcas morfológicas, podem ter gêneros diferentes conforme a mudança do contexto. Isso fica claro em:
I. Ele é o artista de rua que nós vimos ontem.
II. Ela é a artista de rua que nós vimos ontem.
Nesses exemplos, a palavra artista possui gênero único e se refere ao masculino na primeira sentença e ao feminino na segunda. Para Mattoso, dependente ou independente do contexto, toda palavra tem um gênero, que pode ser ou não marcado pela flexão, pois o que realmente determina o gênero é a presença (concreta ou potencial) do artigo, que define o gênero do nome que está modificando. Logo, para ele a flexão, quando aparece, é um aspecto redundante na marcação do gênero.


4) No entendimento de Mattoso, quais são os dois aspectos básicos para se levar em conta um tratamento morfológico do gênero?

Os dois aspectos são a indicação do gênero que é primordialmente feita pelo artigo e “casualmente” feita pela flexão em um substantivo e o processo morfológico de flexão, que consiste na adição da desinência –a (com mudanças morfofonêmicas) em oposição à forma masculina, que é não marcada( conforme o conceito de morfema zero de Mattoso Câmara).


5) Para Mattoso, o que é importante na descrição gramatical do gênero?
O que é importante na descrição gramatical do gênero, para Mattoso Câmara, é o princípio da flexão do artigo e o mecanismo flexional pelo qual se expressa a categoria do gênero em português.





* Referência sobre o texto “Considerações sobre o gênero em português” : Texto transcrito de Estudos Linguísticos (Revista Brasileira de Linguística Teórica Aplicada), São Paulo, Centro de Linguística Aplicada do Instituto de Idiomas Yázigi, 1(2): 1-9, dez.1966. Mattoso Câmara era o diretor principal desta Revista.

Erros escolares como tendências linguísticas no Português Brasileiro do Rio de Janeiro - Mattoso Câmara *

Resenha
O autor analisa os ditados e descrições do Exame de Admissão executados por 62 crianças no Rio de Janeiro, a fim de destacar os erros mais frequentes e constantemente repetidos, como índice de tendências linguísticas da língua coloquial culta, que nessas crianças está sedimentada como linguagem "transmitida" (Bally) no meio familiar.
O colégio a qual essas crianças estudavam excluía crianças de classes humildes, pois estava localizado em uma área nobre do Rio.
O resultado do estudo veio corroborar conclusões de ordem fonética, morfológica e sintática a que se tem chegado em referência à língua coloquial culta do Rio de Janeiro.
Mattoso afirma que o resultado de sua pesquisa é um resultado naturalmente parcial e que não abarca todos os aspectos que conviria apreciar mas certamente o resultado da pesquisa foi importante para confirmar a maneira como funcionava o português brasileiro no Rio de Janeiro na década de 1960.
É importante citar ainda que as crianças já haviam sofrido o impacto da linguagem literária, mas em regra o conflito entre as duas linguagens provoca soluções de compromisso, que são bastante significativas para a dedução das tendências por depreender.

Algumas observações fonéticas relatadas por Mattoso:
- Debilidade do acento tônico quando o vocábulo se acha no interior de um grupo de força;
- Tendência a nasalar a sílaba simples -i, provavelmente pela analogia dos vocábulos compostos com o prefixo -in;
- Redução sistemática do -en inicial a -in;
- Anulação da oposição entre o ditongo [ou] e [o] fechado;
- Tendência à vocalização do [l] velar posvocálico, que passa à semivogal [u].

Na morfologia:
- O artificialismo das contrações pronominais do tipo mo(pronome dativo da 1ª, 2ª ou 3ª pessoa com pronome acusativo da terceira o, a os, as).

Observações sintáticas:
- A tendência à próclise, exceto a partícula -se, em função apassivante, que é sentida como um índice da impessoalização do verbo em forma de sufixo. Ex: Vende-se carro;
- Tendência a subordinar ao verbo o sujeito posposto, desaparecendo a concordância do verbo com esse sujeito, o que resulta, em última análise, numa impessoalização;
- Emprego de que como conectivo geral.
- Tendência em transformar em complemento circunstancial um sujeito que designa lugar, de sorte que o verbo se impessoaliza.

* Câmara Jr., J.M. Erros escolares como sintomas de tendências lingüísticas no português do Rio de Janeiro. In: Uchôa, C. E. F.(Org). Dispersos de J. Mattoso Câmara Jr. Nova edição revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. p.87-95. Edição original: 1957.

Questões referentes ao texto de Carlos Eduardo F. Uchôa

Indagações*

1) Ao não romper totalmente com a tradição filológica, os estudos linguísticos de Mattoso não teriam ficado restritos ao âmbito da norma culta e ao campo literário?

2) O artigo menciona a vasta pesquisa fonética de Mattoso Câmara no Brasil. Mas, apesar da de existir outras línguas (línguas não oficiais), Mattoso só fez estudos sobre a Língua Portuguesa. Teria Uchôa descartado trabalhos de Mattoso sobre outras línguas no território nacional ou o próprio Mattoso desconsiderava-as?

3) O fato de Mattoso, o primeiro pesquisador brasileiro considerado como estruturalista, considerar tanto a sincronia quanto a diacronia distingue-o de Saussure e do recorte feito por ele no CLG. Esta divergência teórica pode ser considerada um indício de que o estruturalismo no Brasil era mais reflexivo e diferente do estruturalismo europeu e americano?

4) Uchôa menciona que a preocupação em "estudar a linguagem em seu plano universal, como atividade inerente ao ser humano (p.69), foi uma marca inegável do pioneirismo de Mattoso no que pode ser considerada como sua primeira fase. Essa preocupação se estende até o final da vida daquele que é oficialmente considerado como o primeiro linguista brasileiro?

5)Também em seu momento inicial, Mattoso objetiva fazer Linguística Teórica com princípios aplicáveis a qualquer língua. De qual nível nível linguístico Mattoso visava extrair esses princípios? Seria possível extrair princípios universais de todos os níveis?

6) Ao mesmo tempo que Mattoso afirma que os alunos já dominam o uso da língua pois a aprenderam no convívio familiar, ele aponta como "primeiro objetivo do ensino da língua materna" (p.75) uniformizar a comunicação linguística no território nacional, ensinando a língua padrão sob os aspectos orais e escritos. É possível dizer que esses posicionamentos contraditórios revelam uma postura normativa e purista de Mattoso Câmara?


* O texto referido pode ser acessado em :
http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=1&ved=0CBUQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.estudosdalinguagem.org%2Fseer%2Findex.php%2Festudosdalinguagem%2Farticle%2Fdownload%2F24%2F45&ei=vy_3S8O7HsKC8gbQ6YjsCg&usg=AFQjCNFxI-rlLIEHb6Hdb3Nv5jiETaYTPw&sig2=lZpRoOmNNRghrAk5cYmjKQ

Mattoso Câmara e a Língua Oral- Carlos Eduardo Falcão Uchôa

Objetos observacionais e objetos teóricos:

Dificilmente pode-se juntar teorias com objetos teóricos diferentes por causa das correntes epistemológicas das quais surgiram e pelas incongruências que podem aparecer de teorias e objetos teóricos diferentes.
As teorias não são tentativas de reproduzir a realidade da língua em sua totalidade; elas dão conta de um recorte, são tentativas de representação e não de REPRODUÇÃO.

Dados
-A filologia era uma ferramenta para estudar os textos literários do século XVI ao século XIX

Primeiro momento do pensamento de Mattoso:
Visava estudar a linguagem no plano universal, como atividade inerente ao ser humano.
O Objetivo de fazer Linguística Teórica com princípios "adequáveis" a qualquer língua era o tema do livro Princípios de Linguística Geral, publicado em 1940 e considerado um marco na história da Linguística no Brasil.
Mattoso não só elegia a língua como seu objeto de estudo mas também a literatura. Além disso, pensava ora sincronicamente, ora diacronicamente. Contudo, essa característica eclética de Mattoso CÂmara pode ser considerada uma tentativa de propor uma linguística brasileira.

Segundo momento:
Concentração em estudos fonológicos e morfológicos do português dos anos 60. Não havia preocupação com a sintaxe, nem tampouco com a semântica.
Mattoso Câmara e Antenor Nascentes tentavam explicar as irregularidades nas pronúnicas em diferentes partes do Brasil através de regras fonéticas, como por exemplo, a regra de que as vogais pré-tônicas são atraídas pelas tônicas.
Além disso, a situação enunciativa modifica a materialidade linguística estruturalista.
Uchôa insinua que Mattoso não foi tão estruturalista e filológico quanto se pensa. Como "prova", ele coloca os estudos fonéticos e sincrônicos e diacrônicos, que impossibilitam o rótulo de pesquisador estritamente estruturalista.

Linguagem e História

O texto é uma estrutura, uma organização linguística, um todo dotado de sentido constituído por uma organização linguística própria.
O sentido do texto é dado em relção ao que está fora dele.

Bakhtin expõe a noção da estatuagem grotesca: mulheres velhas dando a luz: morte e vida em jogo.
Processo da vida, o corpo em processo é marcado.

Palestra Dominique Maingueneau - 29/04/2010

Discurso Político

1) Problema Investimento genérico: enquanto um candidato pertencente a extrema esquerda, o indivíduo está em posição especial. Há uma tensão entre o gênero radical e a democracia.
Há a necessidade de se diferenciar dos outros no mundo da política. Contudo, há situações em que os candidatos poder esconder o problema enquanto em outras não é possível modificar o gênero.

Um texto tende a construir o espaço onde está circulando.

2) Problema da legitimidade do falante: estou falando como candidato mas devo construir a imagem do enunciador.
A instituição é só uma representação do que está fora da instituição. Para se legitimar, fazer um auto-retrato, o candidato:
- considera a escolha do léxico: mistura de palavras características (da esquerda, no caso) com palavras "inovadoras": tentativa de construir uma nova imagem mas não um construção de uma nova esquerda.

Dentro de uma palvra, há toda uma memória.
A foto, a imagem e a roupa são construções ideológicas.
O verbal possibilita a interpretação da imagem mas a imagem dá credibilidade ao verbal.

Conclusões que contribuem para a construção do discurso político:
- a reflexão acerca dos textos;
- a importância do trabalho sobre o significante;
-a importância do implícito.