sexta-feira, 21 de maio de 2010

Erros escolares como tendências linguísticas no Português Brasileiro do Rio de Janeiro - Mattoso Câmara *

Resenha
O autor analisa os ditados e descrições do Exame de Admissão executados por 62 crianças no Rio de Janeiro, a fim de destacar os erros mais frequentes e constantemente repetidos, como índice de tendências linguísticas da língua coloquial culta, que nessas crianças está sedimentada como linguagem "transmitida" (Bally) no meio familiar.
O colégio a qual essas crianças estudavam excluía crianças de classes humildes, pois estava localizado em uma área nobre do Rio.
O resultado do estudo veio corroborar conclusões de ordem fonética, morfológica e sintática a que se tem chegado em referência à língua coloquial culta do Rio de Janeiro.
Mattoso afirma que o resultado de sua pesquisa é um resultado naturalmente parcial e que não abarca todos os aspectos que conviria apreciar mas certamente o resultado da pesquisa foi importante para confirmar a maneira como funcionava o português brasileiro no Rio de Janeiro na década de 1960.
É importante citar ainda que as crianças já haviam sofrido o impacto da linguagem literária, mas em regra o conflito entre as duas linguagens provoca soluções de compromisso, que são bastante significativas para a dedução das tendências por depreender.

Algumas observações fonéticas relatadas por Mattoso:
- Debilidade do acento tônico quando o vocábulo se acha no interior de um grupo de força;
- Tendência a nasalar a sílaba simples -i, provavelmente pela analogia dos vocábulos compostos com o prefixo -in;
- Redução sistemática do -en inicial a -in;
- Anulação da oposição entre o ditongo [ou] e [o] fechado;
- Tendência à vocalização do [l] velar posvocálico, que passa à semivogal [u].

Na morfologia:
- O artificialismo das contrações pronominais do tipo mo(pronome dativo da 1ª, 2ª ou 3ª pessoa com pronome acusativo da terceira o, a os, as).

Observações sintáticas:
- A tendência à próclise, exceto a partícula -se, em função apassivante, que é sentida como um índice da impessoalização do verbo em forma de sufixo. Ex: Vende-se carro;
- Tendência a subordinar ao verbo o sujeito posposto, desaparecendo a concordância do verbo com esse sujeito, o que resulta, em última análise, numa impessoalização;
- Emprego de que como conectivo geral.
- Tendência em transformar em complemento circunstancial um sujeito que designa lugar, de sorte que o verbo se impessoaliza.

* Câmara Jr., J.M. Erros escolares como sintomas de tendências lingüísticas no português do Rio de Janeiro. In: Uchôa, C. E. F.(Org). Dispersos de J. Mattoso Câmara Jr. Nova edição revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004. p.87-95. Edição original: 1957.

Nenhum comentário:

Postar um comentário